No mês de dezembro, a atividade baseou-se num
conto de Hans Christian Andersen.
O Pinheirinho, é um conto de Natal
que permite a abordagem de comportamentos e atitudes face ao meio ambiente e a
expetativas de vida.
A insatisfação com a sua própria vida e a ambição
por uma vida melhor embarcando no desconhecido, transformam este conto numa
história bonita e comovente.
O Pinheirinho |
Lá fora, na floresta, encontrava-se um
pequeno e belo Pinheirinho. Nasceu num lugar agradável, onde havia muita luz e
muito ar. Estava rodeado de muitas árvores maiores — pinheiros, e abetos também
— mas o Pinheirinho ansiava por crescer mais. Não dava valor ao ar fresco, ou
às crianças que vinham tagarelar para a floresta e procurar morangos e
framboesas. Passavam muitas vezes com um cesto cheio, sentavam-se junto do
Pinheirinho e diziam: “Que bonito que é aquele pequenino!”, mas não era nada
disso que o Pinheirinho queria ouvir.
No ano seguinte, tinha crescido um
rebento novo e no ano que se seguiu cresceu ainda mais. Pode-se sempre dizer,
pelo número de anéis que tem no tronco, há quantos anos uma árvore está a
crescer.
— Oh, se eu ao menos fosse tão grande
como os outros! — suspirava o Pinheirinho. — Então, espalharia os meus ramos
para bem longe e, do meu topo, estaria atento a todo o mundo. Os pássaros
construiriam ninhos nos meus ramos e, quando o vento soprasse, apenas abanaria,
tão orgulhoso como as outras árvores.
No Inverno, quando a neve pousa por todo
o lado branca e brilhante, uma lebre veio a correr e saltou por cima do Pinheirinho,
o que o pôs zangado. Mas, três Invernos passado, a pequena árvore tinha
crescido tanto que a lebre teve de a contornar.
“Oh, crescer, crescer e envelhecer! É,
de certeza, a melhor coisa do mundo”, pensou a árvore.
No Outono, os lenhadores vinham sempre
para abater algumas das árvores maiores. O Pinheirinho estremeceu de medo, pois
as árvores grandes caíam estrondosamente no chão e os ramos eram cortados para
que parecessem bastante despidas. Eram colocadas em camiões e levadas dali.
“Para onde iriam?”, perguntou-se o Pinheirinho.
Na Primavera, quando as andorinhas e as
cegonhas chegaram, a árvore perguntou-lhes:
— Sabem para onde vão as árvores?
Viram-nas?
As andorinhas responderam que não, mas a
cegonha disse:
— Sim, penso que sim. Vi muitos navios
novos, quando deixei o Egipto. Tinham mastros muito altos; penso que eram as
árvores. Cheiravam a abetos. Tudo o que posso dizer é que eram altas e
imponentes — muito imponentes.
— Quem me dera ser suficientemente
grande para ir para o mar! — suspirou o Pinheirinho. — Que tipo de coisa é o
mar e a que se assemelha?
— Levaria muito tempo para explicar tudo
isso — disse a cegonha. E partiu.
— Devias estar feliz por ainda seres
jovem e forte — disseram os raios de Sol. E o vento e a chuva beijaram a
árvore, mas o Pinheirinho não queria saber do que eles diziam.
Por altura do Natal, foram cortadas
muitas árvores jovens; árvores que eram mais jovens e mais pequenas do que este
Pinheirinho impaciente. A estas belas e jovens árvores não foram cortados os
ramos quando foram colocadas nos camiões e levadas para fora do bosque.
— Para onde vão? — perguntou o
Pinheirinho. — Algumas são muito mais pequenas do que eu. Porque é que não lhes
cortaram os ramos? Para onde vão ser levadas?
— Nós sabemos! Nós sabemos! — chilrearam
os pardais. — Andamos sempre a espreitar pelas janelas na cidade e, por isso,
sabemos para onde vão. Vão ser decoradas da maneira mais bonita que possas
imaginar. Olhámos pelas janelas e vimos que eram colocadas em vasos, numa
quente sala de estar, e decoradas com as coisas mais bonitas — maçãs douradas,
bolos de mel, brinquedos e centenas de velas. — E depois? — perguntou o
Pinheirinho, com todos os ramos a tremer. — E depois? O que acontece depois?
— Bem — disse o pardal — só vimos isso,
mas era maravilhoso.
— Talvez isso me aconteça um dia! —
gritou o Pinheirinho. — Isso ainda era melhor do que viajar pelo mar. Se pelo
menos agora fosse Natal! Oh, se ao menos me levassem! Se ao menos estivesse
numa sala de estar quente, decorado com coisas bonitas! E depois? O que
aconteceria? Devia ser ainda mais maravilhoso. Porque me enfeitariam? Oh, quem
me dera que isto me acontecesse!
— Sê feliz aqui connosco — disseram o ar
e a luz do Sol. — Sê feliz aqui na floresta.
Mas o Pinheirinho não era nada feliz.
Crescia, crescia e continuava ali, verde, verde-escuro. As pessoas que o viam
diziam: — É uma árvore muito bonita! E, por altura do Natal, foi cortada antes
dos outros. O machado cortou-a bem fundo, no tronco, e a árvore caiu para o
chão com um suspiro: sentiu uma dor, e agora estava triste por ter de deixar o
lar. Sabia que nunca mais iria ver os amigos, os pequenos arbustos e as flores
— talvez até os pássaros.
A árvore só voltou a si quando estava a
ser descarregada num quintal, juntamente com outras árvores, e ouviu um homem
dizer:
— Esta é a melhor. Só queremos esta!
Depois, vieram dois criados vestidos com
uniformes brilhantes e levaram o Pinheirinho para uma sala enorme e bonita.
Havia, por todo o lado, quadros pendurados nas paredes e, junto do fogão,
estavam enormes jarros chineses com leões.
Havia cadeiras de baloiço, sofás de
seda, mesas cobertas de livros ilustrados e centenas de brin quedos por todo o
lado.
O Pinheirinho foi posto dentro de um
vaso grande com areia. A árvore tremeu! O que iria acontecer a seguir? Os
criados e as crianças começaram a enfeitá-lo. Nos ramos, penduraram pequenos
sacos feitos de papel colorido. Cada saco era enchido com guloseimas; maçãs
douradas e nozes pendiam, como se tivessem nascido ali, e centenas de velinhas
foram atadas aos galhos. Bonecas que pareciam pessoas de verdade pendiam de
outros ramos e, mesmo no topo da árvore, estava fixada uma estrela de latão.
Era magnificente, extraordinário!
— Esta noite — disseram todos — esta
noite, a estrela brilhará.
— Oh — disse o Pinheirinho — se ao menos
já fosse noite! Oh, espero que acendam as velas brevemente. Será que as árvores
vêm da floresta para me ver? E será que os pardais vão espreitar pelas janelas?
Será que vou ficar aqui ornamentado para sempre?
Todas estas perguntas causaram dores de
costas à árvore e as dores de costas são tão más para as árvores como as dores
de cabeça para as pessoas. Por fim, as velas foram acesas. Que brilho, que
esplendor! O Pinheirinho tremeu tanto que uma das velas pegou fogo a um ramo
verde, mas foi rapidamente apagado.
E, naquele momento, as portas foram
abertas de par em par e as crianças entraram cheias de pressa. Olharam
fixamente e em silêncio para a árvore, mas apenas por um minuto. Começaram a
gritar de alegria e a dançar à volta da árvore, puxando os presentes.
“O que estão a fazer?”, pensou o
Pinheirinho. “O que se está a passar?”
As velas arderam até ao fim, as crianças
tiraram as guloseimas da árvore e dançaram com os brinquedos novos. Já ninguém
olhava para a árvore, exceto um homem idoso que se aproximou e espreitou por
entre os ramos para ver se todas as nozes e maçãs tinham sido comidas.
— Uma história! Uma história! — gritavam
as crianças, e levaram, para junto da árvore, um homem divertido, que se sentou
mesmo debaixo dela.
— Vamos fingir que estamos no bosque
verde — disse — e que a árvore consegue ouvir o conto.
E o homem divertido contou o conto de
Klumpey-Dumpey, que estava sempre a cair pelas escadas abaixo e, já no fim,
casou com uma princesa. O Pinheirinho ficou bastante silencioso e pensativo. Os
pássaros do bosque nunca tinham contado uma história como esta. Klumpey-Dumpey
sempre a cair pelas escadas abaixo e, mesmo assim, casou com uma princesa.
— Bem! Bem! — disse o Pinheirinho. —
Quem sabe? Talvez eu também tenha de cair pelas escadas abaixo e casar com uma
princesa! — e estava ansioso por ser de novo decorado com velas, brinquedos e
frutos, na noite seguinte.
Mas, de manhã, os criados vieram tirá-lo
da sala, levaram-no para o sótão e puseram-no num canto, onde não entrava a luz
do dia. “O que significa isto?” pensou a árvore. “O que estou a fazer aqui? O
que está a acontecer?”
Encostou-se à parede, pensou e pensou. E
teve tempo suficiente, pois passaram-se dias e noites e ninguém voltou lá a
subir.
A árvore parecia ter sido totalmente
esquecida.
— Agora, é Inverno lá fora — disse o
Pinheirinho. — A terra está dura e coberta de neve, e as pessoas não podem
plantar-me. Suponho que devo ficar aqui abrigado, até que venha a Primavera.
Que atenciosos! Mas que pessoas boas! Se ao menos aqui eu não estivesse tão às
escuras e tão sozinho!… Era bonito lá fora, na floresta, quando a neve pousava
espessa, e aquela lebre vinha saltar por cima de mim; mas, na altura, eu não
gostava. Isto aqui em cima é terrivelmente solitário! Mas que pessoas boas!
De repente, dois ratinhos aproximaram-se
lentamente. Cheiraram o Pinheirinho e, depois, subiram para os ramos.
— Está muito frio aqui em cima —
disseram os dois ratinhos. — Também achas, árvore velha?
— Não sou velha — disse o Pinheirinho.
— De onde vens? — perguntaram os ratos.
— E o que conheces?
Eram muito inquisitivos.
— Conta-nos sobre o lugar mais bonito do
mundo! Já estiveste lá?
— O lugar mais bonito do mundo — disse a
árvore — é a floresta, onde o Sol brilha e os pássaros cantam. E, depois,
contou aos ratos tudo sobre a sua juventude. Os ratinhos ouviram e disseram:
— Tantas coisas que já viste! Deves ter
sido muito feliz!
— Fui — disse o Pinheirinho. — Aqueles
foram, realmente, tempos de felicidade.
Mas, depois, contou-lhes sobre a Véspera
de Natal, quando tinha sido enfeitado com guloseimas e velas.
— Oh! — disseram os ratinhos. — Como
foste tão feliz, árvore velha!
— Não sou velha — disse a árvore. — Só
saí da floresta este Inverno.
— Mas que histórias maravilhosas podes
contar! — disseram os ratinhos.
E no dia seguinte, vieram com mais
quatro ratinhos para ouvir o que a árvore tinha para contar.
Assim, o Pinheirinho contou-lhes a
história do Klumpey-Dumpey e os ratinhos correram direitos para o topo da
árvore, cheios de satisfação. Na noite seguinte, vieram muito mais ratos, e o
Pinheirinho contou outra vez a mesma história. Mas, quando descobriram que a
árvore não sabia mais histórias, os ratos ficaram aborrecidos e foram-se
embora.
O Pinheirinho ficou triste.
— Era muito agradável, quando os
ratinhos divertidos ouviam a minha história, mas em breve vai chegar a
Primavera. Vou ficar tão feliz quando me tirarem deste local solitário!…
Quando chegou a Primavera, as pessoas
vieram remexer no sótão. Um criado levou a árvore para baixo, onde a luz do dia
brilhava.
“Agora, a vida vai começar de novo!”,
pensou a árvore.
Sentiu o ar fresco e os raios do Sol no
pátio. O pátio estava perto de um jardim, onde as rosas estavam em flor, as
árvores cheias de folhas e as andorinhas a cantar.
— Agora, tenho de viver! — disse a
árvore, alegremente, e esticou os ramos. Mas, meu Deus! Estavam todos murchos e
amarelos. Ficou a um canto, entre as urtigas e as ervas daninhas. A estrela de
latão ainda lá estava e brilhava com a luz do Sol.
No pátio, as crianças, que no Natal
tinham dançado à volta da árvore, estavam a brincar. Uma delas trepou à árvore
e tirou a estrela dourada.
— Vejam o que está agarrado a este velho
e feio Pinheirinho — disse a criança, e começou a pisar-lhe os ramos até
partirem debaixo das botas.
E a árvore olhou para todas as flores e
para o belo jardim e, depois, para ela própria, e desejou ter ficado no canto
escuro do sótão. Pensou na juventude fresca na floresta, na Véspera de Natal
feliz e nos ratinhos que ouviram com tanta alegria a história do
Klumpey-Dumpey.
— Passado! Passado! — disse a velha
árvore. — Acabou tudo. Se ao menos tivesse sido mais feliz naquela época.
E veio um criado e cortou a árvore aos
pedacinhos. Estava ali um feixe enorme. Ardia resplandecente no fogão, suspirava
profundamente e cada suspiro era uma pequena explosão. As crianças sentaram-se
junto da lareira, olharam para ela e gritaram:
— Zás! Trás!
Mas, a cada explosão, que era um suspiro
profundo, a árvore pensava num dia de Verão na floresta, ou numa noite de
Inverno, quando as estrelas brilhavam. Pensava na Véspera de Natal e no
Klumpey-Dumpey, a única história que tinha ouvido ou que sabia contar; e,
depois, a árvore foi queimada.
As crianças brincaram no jardim e o mais
novo usou a estrela dourada que a árvore tinha usado na sua noite mais feliz.
Agora, tudo acabara. A vida da árvore
tinha terminado e o conto também.
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